Polícia Civil de Santa Catarina finaliza inquérito do ataque à creche de Blumenau

As forças de segurança do Estado de Santa Catarina divulgaram nesta segunda-feira, 17, o resultado da investigação sobre a tragédia que vitimou quatro crianças e deixou outras cinco feridas, na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, no dia 5 de abril. O autor dos crimes foi indiciado por quatro homicídios e cinco tentativas de homicídios.

Na coletiva de imprensa, a Polícia Civil divulgou detalhes do inquérito policial que foi remetido ao judiciário catarinense. A investigação foi realizada pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Blumenau em trabalho conjunto com os peritos da Polícia Científica de Santa Catarina e colaboração da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar e Secretaria da Educação do Estado.

O delegado-geral da PCSC, Ulisses Gabriel, fez um apelo à sociedade para que as pessoas não divulguem fake news e que, ao tomar conhecimento de uma informação, por meio de qualquer rede social, consultem os canais oficiais do governo. “É preciso ter cuidado com as informações que se repassa. Estamos enfrentando uma enxurrada de fake news que causam pânico na população, que já está estressada”. O delegado-geral disse ainda que a mesma força que se usa para investigar uma informação verdadeira é igualmente empregada para investigar a fake news.

Conclusão

Para a Polícia Civil, o investigado agiu sozinho e tinha a intenção de matar um número maior de crianças. O homem usou a moto para executar o plano e depois se entregou ao Batalhão da Polícia Militar de Blumenau. “Por todo o exposto, considerando todos os elementos angariados no decorrer da investigação, conclui-se que, de plena consciência da ilicitude do fato, como também de livre e espontânea vontade, o homem foi o autor do crime”, disse o delegado-geral.

Investigação

A Polícia Civil analisou imagens, documentos eletrônicos, conversas em grupos na internet, além de ouvir testemunhas. A equipe da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos – DRCI, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), atuou na coleta de informações do aparelho telefônico do investigado. De acordo com o delegado da DIC de Blumenau, Ronnie Reis Esteves, a investigação se dividiu em duas partes: oitivas com o acusado e as testemunhas e a dinâmica do crime. O delegado contou que durante o registro do auto de prisão em flagrante em momento algum o investigado se recusou a dar informações. “No depoimento, a mãe disse que ele era uma pessoa normal até começar a usar drogas e vender drogas para sustentar o vício. Ela só se deu conta de que ele estava usando drogas quando percebeu alteração no comportamento do filho”, Esteves.

O delegado da DIC de Blumenau, Rodrigo Raitz, responsável pela definição da dinâmica do crime, disse que foi feito um levantamento de todo o trajeto do criminoso, desde o momento que ele sai de casa até se entregar no Batalhão da PMSC. “Ele saiu de casa às 8h03, foi na academia de ginástica por onde permaneceu por 23 minutos, percorreu diversas ruas até chegar à creche, pulou o muro e em 20 segundos matou quatro crianças e feriu outras cinco. Depois disso ele pegou a moto e se entregou ao Batalhão da PM.

Por meio de relatório de análise de extração de dados, observou-se que o investigado pesquisava na internet sobre ocultismos, seitas e magias. Após analisar as pesquisas feitas em navegadores de internet, a Polícia Civil comprovou que, no dia 15 de março, ou seja, 21 dias antes do ocorrido, o investigado procurou por modelos de machados.

A psicóloga Policial Civil Larissa Canali disse que no decorrer das investigações não apareceu nenhum diagnóstico oficial de que o criminoso tenha algum transtorno mental. “O histórico é de surtos possivelmente psicóticos, talvez potencializados pelo uso de drogas”, comentou.

Perícia

A perita-geral da Polícia Científica, Andressa Boer Fronza, relatou que desde o primeiro momento a PCI mobilizou suas equipes para atender a ocorrência com a maior celeridade possível para subsidiar o inquérito policial e dar agilidade à investigação.

Andressa Fronza destaca ainda o trabalho pericial realizado no celular apreendido do criminoso, do qual foram extraídos até mesmo os dados já apagados para análise e investigação.

“Além da Superintendência Regional de Polícia Científica em Blumenau, mobilizamos equipes de outras regiões para garantir a celeridade que o caso exigia. A maior parte dos laudos periciais solicitados foram emitidos no mesmo dia ou em no máximo 24 horas. Nesse momento, os mais de 20 laudos periciais requisitados já foram entregues à Polícia Civil”, informou.

Perguntado sobre o resultado do exame toxicológico do autor dos homicídios, o superintendente regional da PCI em Blumenau, perito criminal Tiago Luchetta, revela que foi identificado a presença de cocaína, álcool e seus metabólitos. No entanto, Luchetta alerta que o laudo toxicológico é mais complexo que apenas um sim ou não.

“O laudo toxicológico, assim como a maioria dos laudos periciais, precisa ser interpretado de forma conjunta com os demais elementos de prova. Podemos dizer que o criminoso era usuário de drogas, mas ainda não podemos afirmar que ele estava sob efeito de entorpecentes naquele momento. São fatos que ainda serão apurados”, explica Luchetta.